Sobre gerações de nerds: Há 15 anos, X-Men 2 fazia por mim o que Guerra Infinita está fazendo agora


Hoje, X-Men 2 completa 15 anos (e por isso, este texto estará cheio de spoilers do filme).
Quem já leu textos aqui no blog sabe quanto eu curto X-Men. Dos desenhos aos filmes.
Já até defendi o Bryan Singer aqui - coisa que não faço mais hoje, tanto pela conduta pessoal dele, quanto pelo fato dele ter sido o responsável pela atrocidade que foi X-Men Apocalypse.
Já mostrei aqui também que tenho uma opinião diferente da maioria dos fãs de quadrinhos a respeito de adaptações cinematográficas.
Por essas razões, não deixa de me incomodar e me entristecer que filmes que foram importantíssimos pra mim e que considero excelentes até hoje parecem não ter tanta importância assim ou não impressiona a nova geração de nerds, que parece não ver a hora da Marvel finalmente colocar as mãos nos mutantes e colocá-los junto com os Vingadores nas telonas - possibilidade agora real, já que a compra da Fox pela Disney já está finalizada por parte das empresas e só não dará certo se, de alguma forma a regulamentação norte-americana não aprová-la.
Eu não estou tão ansioso assim (embora esteja em alguns aspectos), e os mais jovens dificilmente compreendem minha não empolgação em ver os X-Men na Marvel Studios.
Observando as reações a Guerra Infinita - o primeiro filme da Marvel que realmente me deixou apreensivo e tenso em relação ao destino dos personagens - eu entendi um pouco o que X-Men fez por mim que talvez a nova geração não compreenda.
Há 15 anos atrás, quando X2: X-Men United foi lançado, eu já tinha 12 anos de idade. Já tinha assistido duas versões dos X-Men para a TV (a série animada dos anos 90 e X-Men: Evolution) e já tinha lido vários quadrinhos, inclusive a Saga da Fênix Negra.
Eu não assisti o filme no cinema, não vi trailer algum, sabia que ia ser lançado por causa dos posters maravilhosos que vi pregados na porta do cinema e nas locadoras (cheguei a ganhar um poster de uma locadora, inclusive). Quando o filme finalmente chegou em DVD, eu lembro que eu demorei pelo menos umas três semanas pra conseguir alugá-lo com meus primos. Assisti o filme umas seis vezes naquele fim de semana (sem brincadeira!).


Eu era uma criança nerd de 12 anos de idade, fã de quadrinhos que acabara de ver uma continuação superior ao seu antecessor no cinema. Quem era muito novo naquela época talvez não lembre da sensação de ver o Noturno em live action pela primeira vez, ou de ver os olhos da Jean brilhando em fogo enquanto seus poderes despertavam para o que viria a ser a Fênix. Só quem lia quadrinhos entendia que ela se sacrificar para salvar os X-Men no X-Jato era uma referência direta à Origem da Fênix nos quadrinhos, onde ela se expõe à uma tempestade solar pra salvar os X-Men e a nave cai num lago, do qual ela ressurge como a Fênix. Só quem tinha lido a Saga da Fênix Negra sabia que Jason Stryker era uma referência ao ilusionista psíquico Jason Wyngarde nos quadrinhos - responsável pelo despertar da Fênix Negra.
Quem era muito jovem também não pirou nas pequenas participações da Lince Negra e do Colossus na fantástica cena da invasão da Mansão. Não reparou o nome do Remy Lebeau, a.k.a Gambit (dentre outros mutantes), nos arquivos do Stryker. Não pirou no Magneto usando o ferro excessivo no sangue do guarda pra escapar de sua prisão de plástico. O que dizer da Tempestade sumonando trocentos tornados pra escapar dos mísseis?

Eu sei que os uniformes de couro preto, as longas cenas de diálogo (excelentes por sinal) e o tom mais adulto não chamam mais a atenção dos nerds dos anos 2010. Mas eu lembro que naquela época, X-Men 2, uma adaptação muito bem escrita de três grandes histórias dos X-Men nos quadrinhos (X-Men: Deus Ama, o Homem Mata, Arma X e A Origem da Fênix), foi tão empolgante para os nerds quanto o grandioso Guerra Infinita é hoje para todo mundo que vêm acompanhando o Universo Cinematográfico da Marvel nestes anos todos. Mais ainda para os fãs de quadrinhos que gostam das mega-sagas que ditam o destino do universo Marvel nos quadrinhos.

Ok, X-Men: O Filme é um excelente filme, embora tenha envelhecido um pouco mais, devido ao seu baixo orçamento. Além de ser importantíssimo para abrir as portas para a indústria cinematográfica de super heróis de hoje (leia aqui um texto interessantíssimo sobre como o primeiro X-Men pavimentou o caminho que a Marvel trilha hoje). Mas X-Men 2 foi uma continuação que superou em muito seu antecessor e apresentou o que eu, particularmente, considero até hoje o melhor filme dos mutantes. Roteiro redondinho, direção competente, cenas de ação memoráveis, diálogos excelentes, todos os X-Men têm seu momento, distribuído de forma bem equilibrada (ao contrário do que muitos lembram), decisões ousadas de enredo e discussões sociais extremamente relevantes para a época - envolvendo discussões sobre minorias sociais e o medo norte-americano pós-11 de Setembro.

Aliás, foi a importância e nostalgia desse filme que fez com que eu arrepiasse quando assisti X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido em 2014 e começaram aqueles clássicos créditos iniciais da franquia com o mesmo tema épico de John Ottman para X-Men 2. Rever aquela abertura, ouvir aquele tema e ver o elenco da trilogia original de novo foi de uma satisfação incrível.

O que as pessoas não entendem é que X2 é de uma outra época. Uma época em que trilogias estavam na moda, por causa de Blade e Matrix, couro preto era legal, filmes de super herói estavam voltando aos eixos e era muito mais arriscado adaptar quadrinhos para as telonas, pois o gênero havia sido desgastado pela franquia do Batman e uma série de telefilmes ruins (incluindo Geração X, um péssimo piloto de série produzido pela Fox baseado numa das equipes dos X-Men). E talvez justamente por ser arriscado, a franquia passou por diversos altos e baixos. Minha decepção com X-Men: O Confronto Final foi grande. A franquia só veio a retomar seu fôlego com Primeira Classe em 2011 e voltou a decepcionar com X-Men: Apocalypse em 2016. A Fox vem acertando nos derivados da franquia, como Logan e Deadpool, mas ninguém espera muito de Fênix Negra, provavelmente o último filme dos mutantes nas mãos da Fox, previsto para Fevereiro de 2019 (particularmente, acho que eu, fã chato dos X-Men e de cinema, nunca ficarei plenamente satisfeito com o que fariam com os X-Men em nenhum dos estúdios).
Infelizmente, ninguém, até agora, conseguiu repetir o sucesso que a Marvel Studios tem hoje. Eles criaram um monstro - no bom e no mau sentido - que ninguém consegue bater. Ao mesmo tempo, Guerra Infinita foi o primeiro filme em que decisões corajosas no roteiro foram realmente tomadas - esperamos que algumas delas permaneçam após Vingadores 4. Coisa que as outras empresas fazem é arriscar e pode dar muito errado - como mostra o Quarteto Fantástico de 2015 - ou muito certo - como Deadpool e Logan.

Esse domínio da Marvel fez com que algumas pessoas esquecessem a qualidade e a importância de X-Men 2 para o cinema atual. O filme talvez tenha envelhecido para fãs de quadrinhos e novos fãs de filmes de super heróis, além de possuir algumas pequenas coisinhas que incomodam quem conhece aqueles personagens nos quadrinhos, mas os fãs de cinema vão lembrar qual emocional foi o sacrifício de Jean Grey e os nerds da época vão lembrar quão arrepiante foi ouvir a voz da Jean repetindo no final do filme o que o Professor Xavier fala na abertura do primeiro X-Men enquanto vemos o reflexo da Fênix no fundo do Lago Alkali.

Deixo vocês com as cenas finais desse filmão que é e acho que sempre será um dos meus filmes de super-heróis favoritos (em inglês e sem legenda, não achei legendado rs).





Comentários

  1. Suicídio da Jean uma das cenas mais emblemáticas dos filmes do gênero, jamais igualada e superada. Achei inclusive o clímax da Wanda com o Visão em Infinity War muito parecida, até mesmo na pose das personagens addJDSADSKADSJA

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