Nem só de maiôs e decotes viverão as super heroínas: ilustradores e a sexualização feminina nas HQs



Ok.
É hora de expor um pouco do machismo do mundo nerd, mais especificamente nos quadrinhos. Um pouco, pois há muito mais machismo do que se pode discutir em um pequeno texto.
Isso tem sido uma discussão constante. Às vezes é sobre a pose da Viúva Negra nos posters dos dois primeiros filmes dos Vingadores em relação aos outros personagens. Às vezes é sobre a escalação de uma atriz "muito magra" para o papel de uma super heroína, e aqui, "muito magra" geralmente quer dizer "sem peito e sem bunda".
Para quem acha que as críticas são infundadas, eu estou aqui como aspirante a desenhista para dizer que não são. Quando eu era mais novo, eu comprava muitas daquelas revistas da editora Escala que tinham lições de desenho, grande parte delas lições de desenho para quadrinhos mesmo. Desde sempre a diferença do tratamento do desenho de heróis e heroínas foi claro, embora eu nunca tivesse prestado muita atenção nisso.



Havia, por exemplo, uma coleção de "Como Desenhar Mangá" (quadrinhos japoneses). Nessa coleção havia edições sobre crianças, robôs, homens e mulheres. E tinha a edição extra, sobre "Gatinhas" que ensinava a desenhar garotas kawaii (fofas), bad girls (as garotas más da ação) e deslumbrantes (as mulheres de grandes seios que vestiam pouca roupa). Todas elas objetificadas de maneiras diferentes.






Mesmo nas revistas que focavam no estilo de desenho de quadrinhos de super aventura norte-americanos, possuía discursos parecidos: nos cursos, os desenhistas aprendem a desenhar um padrão específico de mulher. Por exemplo, como desenhar seios redondos, fartos, firmes e levantados é o jeito "certo" de se desenhar. Cinturas finas, mulheres altas, entre 1,75 e 1,85. Nádegas firmes. Esse é o tipo de cuidado com o corpo feminino que não era demonstrado nas revistas que tratavam de desenhos da figura masculina - que só precisava ser muito musculosa e imponente (mesmo que fosse um garoto de 15 anos, como eram os casos dos primeiros X-Men).

Havia instruções sobre como, quando em ação, as personagens deveriam ser mostradas sempre em "ângulos ousados aproveitando a sensualidade da anatomia". É daí que vêm as poses impossíveis de super heroínas nos quadrinhos, desenhadas para sexualizá-las.



Essa forma de desenhar mulheres nos quadrinhos não apenas objetificam a figura feminina, como também enaltece padrões de beleza muitas vezes impossíveis. Esse tipo de cultura favorece a sexualização precoce, alimenta nos garotos uma visão errada da figura feminina e gera comentários idiotas na internet sobre como Gal Gadot e Brie Larson não são adequadas para os papeis de Mulher Maravilha e Capitã Marvel.

Esse cenário só começou a mudar recentemente nos quadrinhos quando o número de mulheres que lê, escreve e desenha HQs aumentou. As roupas hoje mostram menos o corpo e as mulheres são menos "idealizadas". Os ilustradores homens também parecem estar ficando mais conscientes e percebido que não precisa ser mulher para criar um jeito mais adequado de representar a figura feminina nas artes gráficas.



Ainda assim, muita gente (claro, a maioria homens) reclama e chama esse novo tipo de representação nos quadrinhos de "lacração" de uma forma pejorativa. As mulheres que trabalham nas indústrias grandes de quadrinhos, como Marvel e DC ainda enfrentam muito ódio na internet e preconceito no mercado de trabalho, mas têm tornado o mundo dos quadrinhos mais rico e diverso.

Eu, particularmente, dou graças a Deus que os quadrinhos hoje não são só pra nós homens e deixaram de ser uma versão PG-13 da Playboy.

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