Sobre o filme "Missão: Impossível - Fallout": Como manter uma franquia viva por 22 anos



Toda vez que eu acho que a franquia Missão: Impossível vai flopar ou finalmente fazer um filme ruim, ela me entrega um filme melhor do que o anterior. Digo isso desde Protocolo Fantasma e o sexto capítulo da franquia cinematográfica não foge à regra.
À exceção de M:I 2 que eu acho divertido, mas regular, a franquia só melhora, pelo menos em termos de ação.
Mesmo que o roteiro mais bem pensado talvez ainda seja o original do filme dirigido pelo Brian DePalma, agora Fallout vem logo em seguida, com a maior tensão psicológica de toda a série. Enquanto o de 1996 mantém seu suspense baseado na incerteza do que vem a seguir, já que ainda estamos conhecendo aqueles personagens, este sexto capítulo escolhe manter sua tensão ao ser o primeiro filme da franquia a continuar de forma mais direta os acontecimentos do filme anterior, investindo no lado emocional e psicológico trazido pelo J. J. Abrams no terceiro capítulo da franquia e abandonado pelo Brad Bird em Protocolo Fantasma (excelente filme de ação).


Aqui, além das incessantes referências aos filmes anteriores - sobretudo ao primeiro filme - a sequência, diferente dos capítulos anteriores, também investe na continuidade em relação ao enredo de "Nação Secreta", tornando o conflito de interesses entre personagens que estariam normalmente do mesmo lado acirrado. O filme desenvolve melhor o relacionamento de Hunt com Ilsa, interpretada de forma bastante competente pela Rebecca Ferguson, faz do Benji (Simon Pegg) um personagem que, apesar de ainda bem humorado, faz parte integralmente da equipe, não sendo apenas o nerd reduzido a alívio cômico. Henry Cavill cai como uma luva para o papel - aqui ele não precisa parecer legal e é o primeiro personagem na franquia que realmente parece que pode quebrar o Tom Cruise ao meio.

A série segue um padrão de antagonismos que se reconfigura a cada filme, mantendo sempre uma lógica que coloca o protagonista Ethan Hunt com pelo menos dois obstáculos a serem dispostos: os vilões e a desconfiança da IMF que volta e meia renega o agente e sua equipe - geralmente por alguma trama desenvolvida pelo próprio vilão. Em pelo menos três dos filmes da franquia, você tem também o personagem do time que pode ser um traidor, o que seria um terceiro obstáculo que também está relacionado, de alguma forma, ao "vilão" principal.

Embora não fuja tanto dessa proposta, o enredo de Fallout se complica ao estabelecer essa continuidade com o filme anterior, tornando os conflitos de interesse ainda mais complexos e tensos do que os outros capítulos foram e resgatando o elemento de suspense das origens da série. Isso não significa que o roteiro seja um filme de plots super complicados e extremamente imprevisíveis. Na verdade, "Missão: Impossível - Efeito Fallout" apenas prova que Tom Cruise e suas equipes sabem como manter uma fórmula característica num filme de gênero e ainda assim trazer respiros que farão com que o público não se canse dela.

Até então eles haviam feito isso trocando de diretor a cada filme e fazendo os capítulos num formato quase procedural, que não exigia muito conhecimento do filme anterior para entender o atual, mas em tempos de Universo Cinematográfico da Marvel, Tom Cruise e seus produtores parecem ter decidido que valeria a pena pela primeira vez investir em ligações mais diretas com capítulos anteriores - aliás, se seguirem a tendência de mercado, quero um filme solo da Ilsa Faust pra onteeem (a Viúva Negra que vale rs). O não compromisso com uma frequência absurda de lançamentos também é um ponto a favor. Eles parecem reviver a franquia apenas quando possuem uma ideia interessante o suficiente pra isso, e embora isso não seja mercadologicamente esperto, mantém a qualidade dos longas.

Essa também foi a primeira vez que repetiram o diretor. Christopher McQuarrie já havia dirigido "Rogue Nation" e trazido consigo a melhor cinematografia da série. Aqui ele aumenta ainda mais a escala de tudo no filme. Sua precisão na direção das cenas de ação, unida ao famoso fato do Tom Cruise fazer suas próprias cenas de ação (incluindo uma sequência inacreditável num helicóptero), transforma o filme num verdadeiro deleite visual para fãs do gênero.

A construção da tensão é eficiente tanto no roteiro, quanto no visual e, inclusive, na trilha sonora. Lorne Balfe, em sua estreia na franquia, economizou um pouco mais no uso da música tema e mesmo no uso de orquestras em relação ao excelente trabalho do Jon Kraemer em "Rogue Nation", mas a trilha sonora funciona muito bem. Balfe traz alguns elementos ainda não usados pelos seus antecessores. O uso de corais, tambores, piano e acordes menores trazem à ambientação do filme ainda mais tensão e um clima sombrio ausente nos filmes anteriores.

Todos esses elementos juntos fazem de "Missão: Impossível - Efeito Fallout" um dos melhores filmes da franquia, que nunca prometeu nada além de ação excelente, roteiros decentes o suficiente para manter o espectador interessado, sequências de tensão de tirar o fôlego (a despeito da piada recorrente com o nome da série) e muitas loucuras do Tom Cruise testando seus limites físicos. Um prato  cheio para fãs da franquia e diversão garantida para quem curte um bom entretenimento pipoca.

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