Sobre a série Stranger Things: A melhor salada de anos 80 do século XXI



Da mistura de cores nas roupas até X-Men Apocalypse, os anos 80 estão de volta em diversos níveis.
Na música pop, na moda, nos remakes cinematográficos e continuações. Uma continuação para Star Wars, uma estética cinematográfica nostálgica (vide filmes do JJ Abrams e séries como Mr. Robot)... Estamos numa era de nostalgia.
Reviver de forma romântica as décadas do século 20 é o novo black, especialmente anos 60, 70, 80 e até os anos 90 (agora que a última geração nascida nos anos 90 está quase inteira no ensino médio).
E como todas as outras, essa tendência traz vários produtos, alguns executados de forma desengonçada e outros que realmente trazem de volta o melhor da década que tenta homenagear.
Felizmente, Stranger Things se encaixa na última categoria.

E se alguém misturasse tudo o que há de mais querido em ET - O Extraterrestre, Alien - O 8º Passageiro, Poltergeist, Contato, Os Goonies, slasher movies como A Hora do Pesadelo e Sexta Feira 13, livros populares do Stephen King (e suas adaptações cinematográficas) etc? (Se eu fosse continuar a lista, ela ficaria enorme, veja uma lista das principais referências aqui).
Eu diria que as chances disso dar certo são quase nulas.
Mas os irmãos Duffer, os outros roteiristas e os diretores de Stranger Things acertaram a mão e criaram um dos melhores produtos no 80s revival feitos até agora.

Os diretores da série são eficientes em manter a unidade visual dos episódios e apresentam interessantes soluções de cena, estética impecável e referências visuais inteligentes. Aliás, nesse quesito, a produção da série está de parabéns pela reconstrução de época - até mesmo no linguajar, que frequentemente é esquecido em produções de época recente. A fotografia também é sempre pontual e inteligente, entregando alguns momentos realmente inspirados que não só remetem diretamente às produções oitentistas como funcionam bem para a execução da arte em qualquer época. A trilha sonora é fantástica- tanto a playlist de músicas cantadas da época quanto as instrumentais. Há as cenas onde a trilha sonora é irônica, há as cenas onde é assustadora, mas é sempre eficiente. A abertura é incrível. Definitivamente entra para a nova tendência de produzir séries de forma mais cinematográfica e menos televisiva.



O elenco principal não é muito impressionante, nem mesmo a consagrada Winona Ryder, que aposta erroneamente overacting no papel da mãe desesperada, mas segura bem as pontas e não compromete o resultado. Por incrível que pareça, quem mais brilha são as crianças, que são tão cativantes que é impossível não gostar delas - embora isso seja mais mérito dos personagens do que do elenco mirim em si.

São poucos os autores que conseguem homenagear e abraçar o cliché sem se tornarem vítimas dele. Filmes como Pânico (1996) e Terror nos Bastidores (2015) ou séries como American Horror Story (pelo menos as duas primeiras temporadas) e Scream Queens são exceções, que agora também incluem a nova produção do serviço de streaming Netflix.
Com habilidade, os irmãos Duffer reúnem os maiores clichés dos anos 80 (até mesmo o do pai ausente, as conspirações governamentais e a identificação do herói com a heroína por experiências parecidas) e inúmeras referências à cultura pop da época (X-Men, Star Wars, RPG Dungeons & Dragons, rock mainstream, Stephen King, O Enigma de Outro Mundo, Tubarão, Evil Dead etc) a um roteiro surpreendente.
O tempo inteiro eles parecem brincar com o que o público espera do cliché que adotaram e entregam coisas ligeiramente estranhas que são o toque de inovação da série. Quando o espectador se sente finalmente seguro, o roteiro lhe dá uma rasteira e bagunça de novo  as suas expectativas.
Isso sem nunca se entregar a excessos ou reviravoltas forçadas. É um roteiro que cuida bem da maioria dos seus personagens e lhes dá boas motivações e panos de fundo, além de guiar a história de uma forma honesta e sem grandiloquência desnecessária.



Não vou comentar muito, pois Stranger Things é o tipo de série que quanto menos se souber antes de assistir, melhor.
A primeira temporada conclui quase todos os arcos de maneira satisfatória, porém não sem deixar interessantes cliffhangers para a próxima temporada.
Os oito episódios são um deleite a quem gosta da aventura acompanhada de ficção científica e um pouco do terror e do horror queridos por quem cresceu consumindo a cultura pop nos anos 80, quem cresceu vendo Sessão da Tarde e Cinema em Casa, trazendo aquela sensação de nostalgia que só quem viveu o que eu disse vai saber.
Mas isso não impede em nenhum momento que a série seja inovadora e ao invés de funcionar apenas para os saudosistas, funciona muito bem também para apresentar a cultura dos anos 80 aos adolescentes do século 21.



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